O DIREITO DE AMAMENTAR
Muitas mulheres que gostariam de amamentar não recebem o direito de amamentar seu bebê ou o direito de continuar a amamentar. Na realidade muitas mães são informadas que não há diferença entre amamentar ao seio materno e amamentar artificialmente e, dessa maneira não recebem informações para fazer uma escolha consciente sobre como alimentar seu bebê. Que mulher escolheria a alimentação com fórmula se lhe dissessem que há evidências consideráveis de que as mães que amamentam têm uma incidência menor de muitas doenças graves como câncer de mama, câncer de ovário e possivelmente câncer de útero e que quanto mais tempo ela amamenta, menor é o risco?
Parece brincadeira, não é? Quem iria fazer uma mãe parar de amamentar?
Na verdade, temos a impressão de que as mães não têm o direito de amamentar e são obrigadas por profissionais de saúde, por juízes e por órgãos de proteção à criança a não fazê-lo desde os primeiros dias de seu bebê, bem como forçadas a interromper a amamentação, mesmo aquela já iniciada.
Mesmo quando as coisas estão indo bem, falam para as mães que elas devem adicionar leite de vaca à dieta do bebê porque “não há nada de importante no leite materno depois de um ano”. Freqüentemente dizem que por isso deveriam parar de amamentar por completo, ou porque seu filho será “superdependente” ou (por incrível que pareça) porque amamentar depois de certa idade é um abuso. Isso não é, na maioria das vezes, dito abertamente, mas, por exemplo, um psiquiatra infantil na França falou isso a um jornal belga bem conhecido. “Não se compartilha o seio: prolongar o aleitamento materno após os 7 meses é sem dúvida abuso sexual”. Ele ainda é muito procurado pela mídia em busca de conselhos sobre psiquiatria infantil. A mente vacila.
As mães que queriam amamentar e confiaram no sistema de saúde para ajudá-las a prevenir ou tratar problemas com a amamentação frequentemente se sentem culpadas por não amamentar sentindo que “falharam” ou achando que “não poderiam” amamentar por razões médicas. Elas não sabem que na verdade foi o sistema de saúde quem realmente prejudicou a amamentação e por isso, culpam a si próprias e não as práticas hospitalares no trabalho de parto, parto e após o nascimento do bebê. Várias crianças de mães que pretendiam amamentar e acabaram amamentadas com fórmula nunca teriam tido o mesmo caminho se as mães tivessem recebido a informação correta: sua condição médica ou o uso de determinados medicamentos não exigem que se pare de amamentar.
O medo de matar o bebê de fome
Pra piorar, o medo que a mãe sente de que a saúde do bebê seja prejudicada ou que o seu bebê morra de fome são usados como táticas desumanas para fazer com que as mães abalem sua decisão de amamentar e concordem com a alimentação com fórmula. Se os profissionais de saúde conseguissem avaliar a pega correta do bebê e seu recebimento de leite de maneira assertiva, mesmo nos primeiros dias após o nascimento, conseguiriam concluir se a amamentação está indo bem ou não e saberiam como ajudar. Se a amamentação não estiver indo bem, o cuidador poderá ajudar a mãe a arrumar tudo antes que o bebê tenha problemas. Os bebês recebem leite nos primeiros dias, mesmo na primeira mamada, como mostra a pausa no queixo quando o bebê abre a boca ao máximo. As pausas são bem curtas, mas presentes. Veja os vídeos abaixo.
Vídeo 1. Este bebê está mamando muito bem no seio. A pausa em seu queixo quando ele abre a boca ao máximo mostra que sua boca está enchendo de leite. Quanto mais longa a pausa, mais leite o bebê está engolindo. Este bebê tem 3 semanas de vida e o leite flui rapidamente. Mas no próximo vídeo, o bebê tem apenas 10 horas de vida, mas ainda assim está recebendo leite corretamente.
Vídeo 2. Este bebê tem apenas 10 horas de vida. Ele tem boa pega e a mãe está usando compressões na mama para ajudá-lo a obter leite. As pausas são curtas porque as mães não têm muito volume de leite nos primeiros dias. Mas ainda assim eles recebem o suficiente se tiverem boa pega e as compressões podem ajudar o bebê a obter ainda mais leite.
Vídeo 3. Este bebê tem apenas 24 horas mas mama muito bem, recebendo muito mais leite do que um bebê normal nesta idade. Como saber? A pausa no queixo quando o bebê abre a boca ao máximo.
Em geral o conhecimento dos médicos sobre amamentação é tão pobre que se surgir o menor problema com ela a primeira coisa que muitas mães ouvirão da grande maioria dos médicos é “dar fórmula para bebês” ou mesmo “parar de amamentar totalmente”. As mães muitas vezes são forçadas a suplementar ou parar de amamentar especialmente em casos de ganho de peso lento, acompanhados de uma ameaça que o conselho tutelar tirará a guarda da criança dela caso não cumpram as “ordens médicas”. Isso é temível porque os médicos que fazem isso, sem ao menos consultar um especialista em manejo de problemas de amamentação, muitas vezes não têm a menor noção do que está acontecendo e do que pode ser feito para melhorar e se baseiam apenas no peso do bebê. Os pesos podem não ser tão confiáveis como forma de avaliar a adequação da amamentação.
Pela nossa experiência com milhares de mães que vieram à nossa clínica de amamentação durante os últimos 33 anos, fica claro que muito pode ser feito para ajudar a mãe e seu bebê que não está ganhando peso de forma satisfatória. Com uma pequena ajuda, a mãe poderia continuar amamentando exclusivamente sem malefícios ao bebê. No entanto apenas uma pequena minoria das mães obtêm a ajuda adequada que precisam, principalmente porque a mãe e o bebê não são encaminhados a alguém que possa ajudar e, infelizmente, essa pessoa que pode ajudar geralmente não é o pediatra, que deveria dominar o assunto mas que de fato raramente domina.
Às vezes, a solução é fácil. A maneira como o bebê pega a mama precisa ser ajustada para que a mãe não tenha mais dor ao amamentar e o bebê receba mais leite da mama com esse ajuste da pega.
Outra forma de melhorar a pega é “soltando a língua presa” do bebê. Às vezes, o efeito de liberar o frênulo da língua é impressionante no aumento da ingestão de leite materno do bebê, especialmente se for liberado precocemente, nos primeiros dias de vida, antes que o suprimento de leite comece a diminuir. Muitas vezes, o uso da compressão manual das mamas aumentará a ingestão de leite do bebê o suficiente para que ele não precise de suplementação.
Mas na realidade algumas vezes pode não ser tão simples assim. No entanto, mesmo que o bebê precise de suplementação, ela pode ser feita com um auxiliar de lactação junto ao seio. Isso preserva a amamentação com leite materno ao seio enquanto a suplementação com mamadeira, forma mais habitualmente recomendada pelos profissionais de saúde, muitas vezes resulta no bebê recusando a mama.
Mas a maioria das mães não recebe ajuda. Em muitas vezes as mães se sentem frustradas e até mesmo devastadas porque desejavam amamentar e devido à falta de ajuda qualificada ou aconselhamento médico incorreto começam a ver a amamentação como “não confiável”, necessariamente “dolorosa”, “potencialmente perigosa” e a importância da amamentação como “exagerada”. Quando as mulheres são impedidas de amamentar quando desejam, elas podem ficar com raiva e traumatizadas, incapazes de ver e experimentar a alegria da amamentação e recorrem a todos os tipos de mecanismos de enfrentamento que ressurgem nas discussões sobre alimentação infantil. Um dos mecanismos de enfrentamento é censurar a amamentação quando na verdade a culpa não é dela e sim do sistema que a deixou na mão.
Abaixo estão apenas alguns exemplos de como não permitimos às mães o direito de escolher amamentar seus bebês. Eles confirmam o que a sociedade em geral pensa sobre o aleitamento materno e como pensam que a alimentação artificial é considerada a forma habitual de amamentar, além da ideia que a amamentação ao seio é uma forma prescindível e agradável, mas não necessária.
Foto 1. Usar um auxiliar de lactação junto ao seio para suplementar o bebê quando ele recebe o suficiente da mama e quando outras abordagens não funcionaram. A amamentação não envolve apenas o leite materno como alimento. É um relacionamento próximo, íntimo, físico e também emocional entre duas pessoas que estão apaixonadas.
Quais informações as mães comumente recebem?Foto 2. Bem comum de se ver, explorando a preocupação materna se o bebê está mamando o suficiente e adivinha? A solução é fórmula (a “nossa” fórmula)
Muitos obstetras e médicos de família oferecerão “informações” a favor de empresas de fórmulas e, não raro, também distribuirão amostras de fórmulas para gestantes, ambos “presentes” junto com uma bolsa bonita e fofa, com cupons para comprar este leite com desconto. Os “panfletos informativos” frequentemente sugerem que a fórmula é tão boa quanto, senão melhor, que o leite materno e que a amamentação é obrigatoriamente dolorosa. A amamentação ao seio não é assim. Se há dor ao amamentar algo está errado, mas muitos profissionais de saúde acreditam que a dor faz parte e com muita frequência apenas aconselham as mães a “engolir o choro”. Esses panfletos dizem às mães que amamentar é cansativo, produz ansiedade e, além disso, tentam provar que a fórmula é uma base comum da alimentação infantil, mesmo que a mãe esteja amamentando bem. Eles forçam a barra, dizendo que o uso da fórmula vai permitir que o pai participe da amamentação do bebê e que, enfim, “você consegue descansar”, finalizando que amamentar é um trabalho árduo. Não deve ser um trabalho difícil. Na verdade, as mães para as quais a amamentação está funcionando bem costumam dizer como a amamentação é relaxante e fácil. Mas quando é difícil, é difícil pela forma que ajudamos, ou melhor, não ajudamos e prejudicamos a capacidade das mães de amamentar.
Figura 3. Claro, discuta os problemas de amamentação com uma foto de um bebê amamentando numa uma posição muito estranha ao seio materno e provavelmente dolorida.
Figura 4. A suplementação é mostrada como normal, sem problemas, “sem complicações”. “O bebê conhece a mamadeira”: Muito fofo. A amamentação com mamadeira é boa e inevitável.
As fotos acima, tiradas de um típico “livreto de informações” de uma empresa de fórmulas infantis, dão o exemplo. É óbvio que os “presentes” têm como objetivo prejudicar a amamentação. É óbvio para até o mais distraído dos espectadores. Quando esses “presentes” vêm de uma pessoa de autoridade como o médico de família ou o obstetra, isso significa muito. É o endosso de um produto por alguém em quem a mulher grávida confia o suficiente para cuidar dela e de seu bebê.
Mas os médicos, incluindo os obstetras, discutem a amamentação com a futura mãe? Com algumas exceções, no máximo eles respondem a mãe que planeja amamentar com “bom, o seio é o melhor”. E se esses “presentes” vierem de um médico de família ou pediatra depois que o bebê nascer, bem, a mãe confia nessas pessoas para cuidar de seu bebê.
As mães de bebês nascidos prematuramente escutam quase sempre (pelo menos na América do Norte) que não podem colocar o bebê no peito até que ele tenha 34 semanas de gestação (ainda 6 semanas prematuro). Isso prejudica a amamentação porque o bebê poderia ter começado muito antes da 34ª semana e porque os médicos e enfermeiras insistem que “os bebês devem aprender a mamar antes de poderem mamar ao seio livremente”. É sério isso?
De onde vem a ideia de que bebês aprendem a amamentar na mamadeira? E de onde vem essa idade mágica de 34 semanas? Com certeza não vêm de quaisquer estudos científicos. Sabemos, após um artigo na Escandinávia, que bebês prematuros muitas vezes pegam o seio na 28ª semana e às vezes até antes disso. Não todos, claro, mas alguns. E não é raro que bebês prematuros possam ser exclusivamente e completamente amamentados (no peito) por volta da 32 a 33 semanas de gestação, 1 a 2 semanas antes de permitirmos até que os bebês tentem mamar na América do Norte. (É necessário dizer “no peito” porque muitas sociedades ocidentais acreditam que dar leite materno na mamadeira é amamentar – não, não é a mesma coisa).
Os bebês reagem ao fluxo do leite (veja o vídeo) e se o fluxo for devagar, o bebê tende a adormecer no peito, especialmente nas primeiras semanas de vida. O fato do bebê adormecer no seio e, obviamente, ainda ficar com fome depois de sair do peito é considerado uma prova de que a amamentação cansa o bebê. Essa situação ocorre simplesmente porque a maioria das mães não aprendem os princípios básicos da amamentação (incluindo como obter uma boa pega e como saber se um bebê está mamando o suficiente ou não). Assista a este vídeo que mostra um bebê prematuro respondendo ao fluxo de leite da mama.
Além disso, a amamentação ao seio tem que prevalecer acima do fluxo rápido que o bebê estava recebendo da mamadeira e com o fato de que o suprimento de leite materno está diminuindo porque o leite estava sendo retirado com a bombinha ao invés de mãe-bebê estarem pele a pele e amamentados ao seio.
Vídeo 4. Os bebês não se cansam ao seio. Eles respondem ao fluxo de leite. É um erro sugerir que os bebês “puxem o leite do peito”.
Muito frequentemente, as mães de bebês prematuros ouvem que seu leite não é bom o suficiente para um bebê prematuro e que o bebê deve receber “fortificantes”, chamados de “fortificadores de leite humano”, que dão a impressão de que os “fortificadores” são feitos de leite humano, o que não é verdade (embora “fortificantes” tenham sido pensados a partir de leite humano). Os “fortificadores” são na verdade feitos de leite de vaca. Sim, às vezes os “fortificantes” ajudam a fazer o bebê ganhar mais peso e garantir a ingestão adequada de nutrientes, mas a forma como são usados insinua que o uso de “fortificantes” é rotina! Até bebês prematuros com apenas algumas semanas receberão fortificantes na maioria dos hospitais norte-americanos e europeus. E na maioria das vezes são desnecessários. Alguns neonatologistas / pediatras dizem aos pais que o leite materno precisa ser “fortificado” até os 10 meses de idade. Isso é um completo absurdo. Isso vira mais uma tarefa para mãe pois para “fortificar” o leite materno, a mãe precisa extrair seu leite e adicionar o “fortificante” ao leite ordenhado. E as mães estão oferecendo o leite materno “fortificado” em mamadeira, o que também prejudica a amamentação. A maioria dos bebês prematuros na América do Norte sai do hospital com mamadeira.
As mães de bebês nascidos com risco de hipoglicemia são forçadas a dar ou permitir que o bebê receba leite em pó (por mamadeira, é claro). Mas sabe-se que o leite materno, especialmente o leite mais precoce chamado colostro, é mais eficaz para prevenir e tratar a hipoglicemia que a fórmula. Na grande maioria das vezes, se a mãe recebe boa ajuda na amamentação, o bebê é protegido dessa condição pela amamentação ao seio (também porque o contato pele a pele ajuda a prevenir a baixa de açúcar no sangue).
As mães de bebês com icterícia nos primeiros dias são forçadas a suplementar seus bebês com fórmula, ou mesmo tirar o bebê totalmente do peito porque os profissionais de saúde “que a ajudam” acham que o leite materno causa icterícia. Não causa. O que causa níveis de bilirrubina elevados na maioria dos bebês dessa idade é a baixa ingesta do bebê, isso é, não está mamando o suficiente. A solução geralmente não é a fórmula e sim ajudar a mãe a amamentar melhor e oferecer mais leite ao bebê. Assista ao vídeo de um bebê mamando muito bem na mama, embora esteja um pouco ictérico.
Mesmo que ele tenha perdido mais que 10% do peso do nascimento, isso é irrelevante porque ele está mamando muito bem agora. Nos primeiros dias, é mais fácil ajustar a amamentação inadequada e fazê-la funcionar, prevenindo problemas antes de acontecer. Infelizmente, muitas mães e bebês não recebem essa ajuda. O pior de tudo é que, como a icterícia do bebê melhora rapidamente assim que o bebê inicia a fórmula, acaba provando aos profissionais de saúde que eles estavam certos de pensar que o leite materno causou a icterícia, quando na verdade, a verdadeira razão dela melhorar é a ingesta adequada do bebê agora por fórmula. Essa melhoria poderia ter sido atingida ajudando a mãe a amamentar de forma mais eficaz? Sim, mas raramente as mães recebem essa ajuda e o tratamento mais comum é a alimentação com fórmula em mamadeira. É muito mais fácil e leva muito menos tempo dizer à mãe para amamentar com fórmula.
Vídeo 5. Este bebê está mamando muito bem, mostrado pela sua pausa no queixo. Ele perdeu 10% do peso do nascimento e a mãe está sob pressão para complementar, estritamente com base no peso atual. Isso é tão errado, especialmente porque avaliar a adequação da amamentação baseado no peso não é confiável, especialmente se a mãe recebeu fluidos por via intravenosa durante o trabalho de parto e nascimento.
As mães ouvem que, se seus bebês tiverem fenda palatina, não poderão amamentar e nem devem se dar ao trabalho de tentar. É verdade que muitos não conseguem uma boa pega ao seio, mas alguns podem conseguir. A única certeza existente é: se não tentar, não vai conseguir. O bebê neste vídeo tem fenda no palato mole e está mamando (na mama).
As mães ouvem que se o bebê perder mais de 10% do peso ao nascer ele deve receber fórmula em mamadeira. Mas a estimativa de 10% de perda de peso não se baseia em nada científico e resulta em muitos bebês sendo suplementados desnecessariamente e, como resultado, ficam apenas na mamadeira. Mais uma vez, se a mãe e o bebê receberem ajuda de boas mãos, a situação pode mudar drasticamente para melhor. As pessoas agem como se alimentar fisicamente o bebê e o amamentar o bebê ao seio fossem a mesma coisa. O objetivo deveria ser ajudar as mães a alimentar o bebê melhorando a amamentação ao seio. Os profissionais de saúde precisam começar a olhar para os resultados a longo prazo de suas intervenções, não apenas optar pela solução rápida que a amamentação com fórmula aparentemente oferece. Aqui você encontra mais informações sobre o por quê a estimativa de perda de peso não só não faz sentido mas também é prejudicial à amamentação.
As mães ouvem que se tiverem uma cirurgia de redução de mama prévia não poderão amamentar. Talvez a maioria não consiga amamentar exclusivamente ao seio, mas ainda assim podem amamentar e suplementar com leite materno doado ou fórmula adicional devidamente selecionada. O bebê pode ficar no peito, sem mamadeira, e o suplemento ser oferecido com um auxiliar de lactação junto ao seio. A suplementação com o bebê ao seio é importante porque além do maior suprimento de leite, o fundamental é que a amamentação vai muito além do que só o leite materno oferecido. É um relacionamento íntimo e próximo entre duas pessoas que estão muito apaixonadas uma pela outra. O valor dessa relação não se mede pela quantidade de leite materno que a mãe pode produzir e é importante que as pessoas comecem a ver a amamentação em suas diferentes facetas.
Muitas mães ouvem que devem interromper a amamentação por causa dos medicamentos que estão tomando. Isso não é verdade, exceto com raros medicamentos, usados em menor frequência, muitos dos quais poderiam ser substituídos por outros medicamentos igualmente eficazes. A grande maioria das drogas chega ao leite em quantidades pequenas e seguras para o bebê. Alguns medicamentos não passam para o leite e, mesmo assim as mães ouvem que elas vão prejudicar seus bebês se continuarem a amamentar. Em todo caso, a verdadeira questão é a seguinte: o que é mais seguro para o bebê, amamentar com pequenas quantidades da medicação no leite (quantidades mínimas, na verdade) ou fórmula? Dados os riscos de não amamentar, na grande maioria dos casos, a amamentação ao seio continua sendo mais segura. Para mais informações sobre medicamentos maternos e amamentação, clique aqui.
Os juízes que lidam com casos de custódia não levam em conta as necessidades da criança amamentada ao seio em suas decisões, embora o princípio norteador nesses casos devesse ser o melhor para a criança. Tanto o pai quanto a mãe poderiam ser ajustados para passar mais tempo com o bebê se o juiz percebesse que bebês e crianças amamentados ao seio são diferentes de bebês e crianças alimentados com mamadeira. As crianças amamentadas são ainda mais diferentes do que o bebê. Concordemos ou não com a amamentação de crianças pequenas, a criança amamentada obtém segurança e conforto, e principalmente amor da amamentação, assim como o bebê. Como mencionado anteriormente, a amamentação não é apenas sobre nutrição, ideia que não é conhecida por muitas pessoas, incluindo juízes. Para a criança, ser forçada a largar o seio pode ser extremamente perturbador emocionalmente. E não será fácil para a mãe nem para o pai.
Em muitos lugares, os serviços de proteção à criança são um grande problema. Em vez das mães obterem ajuda para continuar a amamentar, elas geralmente ouvem “Pare de amamentar, dê leite artificial ou te tiraremos a guarda do seu filho”. Essas pessoas simplesmente não entendem e se recusam a entender, não conseguem perceber que a ajuda é possível. O caso mais recente que vi foi um bebê de 6 meses que não estava ganhando peso bem. Eu examinei a mãe e o bebê e vi que a melhor maneira de ajudar era fazer a mãe iniciar a alimentação complementar e alimentar o bebê em ambos os seios durante a mamada (ela foi orientada por um especialista em lactação a amamentar em apenas um seio a cada mamada, que não é uma boa ideia). O bebê começou a ganhar peso, mas os serviços de proteção à criança estavam descontentes. Ela não acatou a ordem deles de que deveria dar fórmula. Então, eles tiraram o bebê dela, embora o bebê tenha começado a ganhar peso. Eles fizeram o que prometeram a ela, não foi?
Essas situações são apenas alguns exemplos entre vários de mães que são desnecessariamente instruídas a parar de amamentar; na verdade, que são desnecessariamente obrigadas a parar de amamentar, ou então… Na maioria das vezes, os problemas poderiam ter sido prevenidos ou tratados sem o uso de fórmula ou interrupção da amamentação. Mas, na maioria das vezes, as mães não recebem a ajuda que precisam.
Não estou dizendo que a amamentação sempre funcionará, mesmo com a melhor das ajudas, mas muito mais mães e bebês poderiam conseguir e estar bem.
Se eu passasse pelas mesmas situações que ouço diariamente, situações em que as mães não têm o direito de amamentar, embora tenham tomado uma decisão informada de fazê-lo, estaria escrevendo um artigo ainda mais longo que Guerra e Paz. Mesmo que eu apenas falasse sobre os problemas mencionados acima em detalhes, seria necessário um livro – entretanto, muitas soluções podem ser encontradas em nossas folhas informativas ou em nossos blogs.
If you need help with breastfeeding, make an appointment at our clinic.
Se precisar de ajuda com a amamentação, marque uma consulta em nossa clínica.
Copyright for the English original: Jack Newman, MD, FRCPC, 2017, 2018, 2020
Copyright for the Portuguese translation: Jack Newman, MD, FRCPC, 2020
Translation to the Portuguese: Maria Luisa Silva Quintino (Brazil)