MEU BEBÊ ESTÁ MAMANDO O SUFICIENTE? (PARTE 1)

Por que um bebê não mama o suficiente? Quase sempre, o fator mais importante é que ele não está com uma pega tão boa quanto poderia. Se o bebê não pega bem, ele não estimula o seio bem e, portanto, o leite não flui da mãe para o bebê (observe que as mães transferem o leite, não os bebês que puxam).

E por que um bebê poderia não ter uma pega tão boa?

Por causa de:

1. Como o bebê está posicionado e como está a pega

2. Usar bicos artificiais, como mamadeiras, chupetas e bicos de silicone. É uma pena que a primeira coisa que muitas mães são aconselhadas a fazer quando há problemas com a amamentação é dar fórmula ao bebê, geralmente na mamadeira, que serve apenas para aumentar o peso, mas não aborda o problema real e muitas vezes faz a amamentação piorar. Quando diagnosticamos que o bebê realmente precisa de suplementação, um auxiliar de lactação junto ao seio é uma maneira muito melhor de suplementar um bebê, mas a mãe precisa aprender como usá-lo para que funcione. A pega do bebê deve ser a melhor possível e a sonda do auxiliar de lactação deve estar bem posicionada. Uma sem a outra dificulta o uso do auxiliar de lactação no seio.

3. O bebê tem a língua presa. Algumas línguas presas são óbvias, mas muitas são mais sutis e requerem uma avaliação que vai além do simples olhar. A avaliação também exige palpar sob a língua do bebê, avaliar a mobilidade da língua para cima e, é claro, saber o que palpar. Infelizmente, poucos profissionais de saúde, incluindo consultores de lactação, sabem avaliar se o bebê tem ou não língua presa. Da mesma forma, nem todos os profissionais de saúde sabem como soltar a língua presa de maneira adequada. Muitas vezes, a liberação parcial não auxilia muito.

4. Diminuição tardia da produção total de leite, mas sim diminuição da oferta de leite em relação ao que o bebê estava acostumado) pode levar a uma redução ainda maior na oferta de leite. A diminuição da oferta de leite de início tardio não é incomum. E quando o fluxo de leite diminui, o bebê tende a perder a pega no mamilo, “escorregando”, de modo que a própria diminuição do suprimento de leite pode levar a uma maior diminuição no fluxo de leite. À medida que isso acontece, em resposta ao fluxo lento do leite, o bebê permanece no seio mamando por períodos cada vez mais curtos, o que contribui para que a oferta de leite diminua ainda mais. Também pode resultar no num novo aparecimento de dor mamilar na mãe. Para obter mais informações sobre o início tardio diminuição da oferta de leite. Clique nestes links Mamar bem com texto em inglês, morder com 12 dias de vida, Texto em inglês, Mamar “mais ou menos” para vídeos mostrando bebês mamando bem no peito ou não. Assista aos vídeos, leia os textos e depois assista aos vídeos novamente.

Os primeiros dias

Há uma crença difundida que o leite para o bebê nos primeiros dias não é suficiente. É bizarro imaginar que bebês possam ficar desidratados e até morrer porque não há leite suficiente. O problema não é que não haja leite suficiente; na verdade, quase sempre há. O leite materno é produzido desde a 16ª semana de gestação. O problema habitual é que o bebê não mama o leite que tem à sua disposição.

E por que o bebê não mama o leite que tem? Simplesmente porque o bebê não pega bem. O modo como um bebê pega a mama determina quão bem ele obtém o leite e isso é especialmente importante nos primeiros 3 ou 4 dias de vida, em que os volumes de leite são menores. O problema se situa na importância que deveria ser dada à pega do bebê, que é ignorada em geral, a menos que a mãe tenha dor mamilar, e mesmo assim, dizem que está tudo bem. (Segredo: se a mãe tem dor na amamentação, a pega não é boa, não importa quem diga o contrário). Mesmo que o profissional de saúde saiba que a pega é importante, poucos sabem como realmente ajudar o bebê a pegar melhor. Infelizmente, não faz parte da rotina do pós-parto observar o bebê ao seio e ajudar a mãe, caso seja necessário.

Muitos não sabem como pode ser difícil para um bebê ter boa pega quando os mamilos e aréolas da mãe estão inchados com os fluidos intravenosos administrados durante o trabalho de parto e parto. As mães ouvem que têm “mamilos planos” e, portanto não conseguirão amamentar e, infelizmente, com muita frequência, o “tratamento” dos “mamilos planos” é o bico de silicone. Quando vemos essas mães na clínica de amamentação, elas não têm “mamilos planos”, elas têm mamilos normais, como a grande maioria das mulheres. Os mamilos pareciam planos por causa do inchaço devido aos fluidos intravenosos. Dizer à mãe que seus mamilos são “planos” é errado e mina sua confiança para a amamentação, levando muitas vezes ao uso de bicos de silicone.

Além disso, como a mãe e o bebê estão cheios de líquidos, porque o bebê não pega bem, por causa desses e daqueles fatores, os bebês são suplementados, muitas vezes sem qualquer tentativa de ajudar o bebê a mamar no peito, como melhorando a pega e sem mostrar a compressão manual da mama para a mãe, que ajuda o bebê a mamar mais. Com isso, a mãe fica convencida, pelas “informações” da enfermeira, do médico e da consultora de lactação, que ela não tem leite suficiente. Muitas vezes se torna uma profecia autorrealizável.

A mãe então continua a suplementar, geralmente em mamadeira, que continua a prejudicar a pega do bebê, fazendo com que ele receba cada vez menos leite e, como resultado, mais mamadeiras e mais fórmula. Muitas vezes, este é o fim da amamentação, mais cedo ou mais tarde, e não raramente, mais cedo.

swelling of the nipple and areola
Foto 1: Essa mãe apresenta mama, mamilo e aréola inchados devido à retenção de líquido. Isso dificulta para o bebê mamar. O resultado? O bebê não recebe leite direito e os mamilos da mãe estão doloridos.



VIDEO: Este bebê tem 24 horas de vida e está mamando muito do peito. Como sabemos? Por causa da pausa no queixo ao abrir a boca ao máximo. Quanto mais longa a pausa, mais leite o bebê recebe.

Depois dos primeiros dias

Existem mulheres que não conseguem produzir leite suficiente? Claro, isso sempre aconteceu e provavelmente sempre acontecerá. Provavelmente, nas sociedades tribais, quando um bebê não estava prosperando, ele seria amamentado por outras mães, além da sua própria mãe. Assim como com qualquer outro órgão, as coisas podem dar errado sem que a pessoa afetada tenha culpa.

Depois que os humanos começaram a domesticar vacas, cabras e ovelhas, os bebês ainda recebiam leite de outras mães humanas, mas também recebiam leite de vaca, ovelha, mula, camelo ou égua. Muitos provavelmente morreram de infecção ou de desequilíbrio eletrolítico alimentados apenas com leite animal. Mas mesmo alguns desses bebês sobreviviam, porque recebiam leite não pasteurizado, às vezes diretamente do animal. Este leite continha fatores imunológicos, embora sejam fatores imunológicos apropriados para o animal.

Mas até que mães e bebês recebam a ajuda que precisam para estabelecer e continuar a amamentar, haverá muito mais mães que acreditam erroneamente que são incapazes de amamentar do que realmente existem.

Feeding at the teat of a muleFoto 2. Na França do século 19, os órfãos para os quais uma ama de leite não foi encontrada eram alimentados diretamente na teta de um animal domesticado, neste caso, uma mula.

Por que um bebê pode não mamar todo o leite materno disponível?

1. Restringir o tempo na mama. As mães ainda ouvem que o bebê deve mamar por um tempo determinado na mama (digamos, 10 ou 15 minutos em cada mama), o que pode fazer com que o bebê não mame o suficiente. Alguns profissionais de saúde ainda parecem acreditar que 10 minutos na mama são suficientes porque o bebê recebe 90% do leite nesse tempo. Não tenho ideia de onde surgiu essa noção (que o bebê recebe 90% do leite nos primeiros 10 minutos de sucção).

2. Amamentar em horários determinados. Muitos profissionais de saúde dizem às mães que o bebê deve mamar apenas a cada 3 horas ou 4 horas. Esse tipo de amamentação pode fazer com que o bebê não mame o suficiente e, posteriormente, a produção de leite diminua. A maioria dos bebês mostra sinais de fome bem antes de 3 ou 4 horas. Se a mãe acreditar na “regra”, pode oferecer uma chupeta em vez da mama. Os bebês devem ser amamentados sempre que mostrarem sinais de prontidão para mamar e isso é bem antes de começarem a chorar.

3. O uso de chupeta pode causar diminuição da produção de leite ou pode ser consequência da diminuição da produção de leite quando a mãe usa chupeta para acalmar um bebê que na verdade precisaria ir ao peito. O bebê demonstra sinais de fome muito antes do que “deveria”, e então uma chupeta é oferecida. O bebê mama a chupeta em vez de mamar o peito, e assim a produção de leite diminui, e o bebê “precisa” ainda mais da chupeta. Eventualmente, a mãe ouve do médico que o bebê não está ganhando peso o suficiente, e ela deve suplementar com mamadeiras. Vemos muitos casos de uso recente de chupeta em bebês cujas mães tiveram início tardio de diminuição da produção de leite.

4. Amamentar em apenas uma mama por mamada. A proposta, teoricamente, é que o bebê receba leite com alto teor de gordura. No entanto, se o bebê não está mamando bem, ele não está recebendo leite com alto teor de gordura. O bebê não está necessariamente mamando simplesmente porque está fazendo movimentos de sucção no seio .

A maioria dos bebês que não recebem leite suficiente da mama não o fazem devido a uma série de eventos que incluem intervenções no parto, incluindo o uso de medicamentos peridurais , separação da mãe e do bebê após o nascimento , uso precoce e desnecessário de bicos artificiais, práticas pós-parto e aconselhamento ruim de amamentação. Dessa forma, a maioria das causas de “fornecimento insuficiente de leite” são evitáveis e potencialmente reversíveis se uma ajuda adequada for iniciada logo.

Outras causas de “fornecimento insuficiente de leite”

1. Mulheres que fizeram cirurgia de redução de mama, que geralmente é feita com incisão ao redor da aréola, podem não produzir leite suficiente. No entanto, existem exceções. Vimos mães em nossa clínica que passaram por redução de mama e que produzem todo o leite que o bebê precisa. Tivemos até uma mãe com redução de mama que amamentou gêmeos exclusivamente até os 6 meses de idade. Vale ressaltar que qualquer cirurgia de mama feita com uma incisão ao redor da aréola poderá diminuir a capacidade da mãe de produzir leite. Quanto mais completa for a incisão (a redução da mama envolve uma incisão completa ao redor da aréola), maior será o efeito negativo na produção de leite.

2. Devemos mencionar que olhar para o seio de uma mulher não é uma boa maneira de determinar se ela pode produzir leite suficiente ou não. Às vezes, as mamas são descritas como tendo “tecido glandular insuficiente” (IGT). Não gosto desse termo porque ele basicamente diz que a mãe nunca produzirá leite suficiente e isso não é verdade. Este diagnóstico não ajuda porque pode fazer com que a mãe se sinta insegura e não altera a forma como a ajudaríamos com a amamentação.

3. Mulheres que induzem a lactação para alimentar um bebê adotivo ou um bebê nascido de barriga de aluguel muitas vezes não produzem todo o leite de que o bebê precisa. Algumas sim. As mães que desejam relactar muitas vezes não produzem todo o leite que o bebê precisa, mas algumas sim.

4. Algumas mães não produzem leite suficiente por motivos incomuns ou desconhecidos. Algumas dessas causas incluem mulheres que sofreram remoção cirúrgica ou lesão da glândula pituitária ou mastectomias bilaterais.

breast reduction surgery decreases potential to produce enough milk

Foto 3: Esta mãe fez uma cirurgia de redução de mama. Como resultado, tem sido difícil para ela produzir leite suficiente para o bebê.

The shape of the breast does not always determine milk productionFoto 4: Mãe com sinais típicos de “tecido glandular insuficiente”. Sua outra mama também mostrou sinais de “tecido glandular insuficiente”, mas o bebê melhorou com a amamentação exclusiva. Cuidado ao fazer esse diagnóstico.

Essas mães podem amamentar?

Claro, mas podem não ser capazes de amamentar exclusivamente. A Parte 2 deste artigo discutirá uma abordagem prática para ajudar as mães a amamentar seus bebês da maneira mais exclusiva possível . É importante saber, porém, que amamentar é muito mais do que apenas produzir leite para o bebê. Amamentar envolve muito mais do que o leite materno. Amamentar não é apenas dar garrafa com um bico mais macio. É uma relação física, emocional, íntima e próxima entre duas (ou mais) pessoas que se amam.

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Copyright for the Portuguese version: Jack Newman MD, FRCPC 2020

Copyright for the original English version: Jack Newman, MD, FRCPC, Andrea Polokova, 2017, 2018, 2019, 2020

Translation: Dra Maria Luisa Silva Quintino (Brazil)